Desde 1992, em decorrência da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, no dia 8 de junho celebramos o Dia Mundial dos Oceanos, uma forma de reconhecimento e tributo ao mar e a tudo que ele oferece, dos insumos à potência enquanto marco na paisagem. No que concerne à arquitetura, projetos que lidam com a presença desse plano infinito de água têm a oportunidade de dialogar diretamente com um dos mais fortes e expressivos elementos da natureza.
Desenhar edifícios em sua relação com o oceano é um tipo de ocasião especial de projeto que tem referências inevitáveis e preciosas, como o complexo das Piscinas de Marés de Leça da Palmeira em Portugal, de Alvaro Siza, que há mais de 20 anos serve de equipamento público à população local e a turistas do mundo todo – uma lição das formas possíveis de desenho da paisagem. Outro exemplo que virou uma grande atração turística está em Zadar, na Croácia, onde em 2005 o arquiteto Nikola Bašić propôs o redesenho da encosta marítima da cidade, criando o Sea Organ, que se vale do movimento das ondas para criar uma dinâmica de som e ambiência na paisagem urbana.
Seja em encomendas públicas ou de uso privado, separamos uma seleção de exemplos que provam que a ligação da arquitetura com o mar pode render resultados surpreendentes, que servem também como atestado de aproximação da cultura e da natureza por diversos caminhos.
Residência do Infinito / Alberto Campo Baeza
"Descrição enviada pela equipe de projeto. Em um lugar maravilhoso, um pedaço do paraíso na Terra, na cidade de Cádiz, erguemos um plano infinito frente ao mar infinito, a residência mais ousada que já fizemos. No limite das águas do Oceano Atlântico, onde o mar une o novo e o velho continente, surge uma plataforma de pedra. No lugar por onde passavam e passam todos barcos que vêm do Mediterrâneo a abismar-se no Atlântico."
Centro de Visitantes na Islândia / Andersen & Sigurdsson Architects
"O centro de visitantes está situado nos arredores da pequena vila de Bakkagerdi, habitada por meras 130 pessoas. A navegação e a agricultura ainda são as principais indústrias locais, mas o turismo está crescendo rapidamente.
Em 2015, o município realizou um concurso de arquitetura para um edifício à beira-mar, um local para atender às necessidades dos pescadores e autoridades portuárias, além de ser um ponto focal para os turistas. A área possui uma extensa vida de pássaros, com aves migratórias, como patos e papagaios-do-mar reunidos no verão. Cerca de 40.000 turistas visitam anualmente e o novo edifício deve garantir uma interferência mínima entre as atividades do porto e as atividades dos turistas."
Casa Do / Cazú Zegers G
"Um habitar contido entre duas paredes curvas que acolhem, como uma matriz, o habitar. Frente à magnitude do Oceano Pacífico, a grandeza abissal do litoral no Norte do Chile."
Praça do Migrante / Taller DIEZ 05
"O conceito geral do projeto gira em torno da "Teoria das bordas", eventos que acontecem em um entorno natural entre dois ambientes, no limiar oceano e terra firme, provocando uma espécie de espaço descontínuo, intersticial, um "tecido" entre dois elementos, uma "experiência de sentir o litoral". Assim, o projeto pretende valorizar o contexto original e apropriar-se da ideia de movimento contínuo das marés, por isso seu percurso não é linear, mas sim composto de pausas e ritmos descontínuos, ainda que formando uma unidade urbana."
Under / Snohetta
"Incontáveis espécies de animais marinhos encontram nestas águas, parte salgadas parte salobras, o ambiente perfeito para procriar e se estabelecer, criando uma abundante e exuberante biodiversidade marinha. O projeto desenvolvido pelo escritório norueguês Snøhetta foi concebido para abrigar um centro de pesquisa marítima e um restaurante, como uma enorme baleia encalhada na costa rochosa de Lindesnes, o ponto mais austral da Noruega."
Casa Loba / Pezo von Ellrichshausen
"Talvez a única distinção entre objetos e coisas seja sua escala. Mais próximo a qualquer coisa natural, em sua escala ambígua, essa pequena edificação é mais do que uma cabana, porém, menos do que uma casa. Como um bloco opaco, um objeto monolítico pesadamente ancorado na beira de um precipício, em frente a uma reserva de leões marinhos na costa do Oceano Pacífico."
Seashore Library / Vector Architects
"À medida que o céu se escurece, as nuvens ficam deslumbrantes em azul púrpura. Em um relance, desapareceu. O oceano está em cinza-carvão. A onda rema para a areia com um ritmo que quase se consegue ouvir. É um som ressonante que percorre fundo e longe. A brisa do mar deixa a sua marca na areia, criando ondulações de ondas aéreas. Um barco velho fica meio mergulhado embaixo da areia, como se tivesse habitado o lugar durante anos. Há poucas casas que costumavam ser abrigo de pescadores. Os restos de telhas e as paredes quebradas fecham o espaço no escuro. Através das aberturas na parede, cuidado, é o mar em quietude, como pinturas penduradas na parede".
Passeio Marítimo Torrequebrada / El Muelle Arquitectos
"A intervenção coloca em valor a condição paisagística do lugar, assim como sua posição entre as praias Torrevigía e Torrequebrada. Se desenvolve em todo o passeio por uma faixa fluida e outra mais dura. A faixa fluida está destinada às áreas ajardinadas de espécies mediterrâneas, assim como ao mobiliário urbano e iluminação, gerando um espaço de amortecimento entre o complexo hoteleiro e o passeio. Foram selecionadas diferentes posições para a localização dos espaços para contemplar a paisagem, descansar ou tomar sol. O espaço duro está destinado ao passeio e práticas esportivas."
A Ponte Infinita / Gjøde & Povlsgaard Arkitekter
" Além de enfatizar o panorama costeiro, a ponte estabelece uma conexão entre o presente e a história do lugar, reconectando a praia à um mirante esquecido em meio ao mar.
'A ponte encontra o antigo cais situado no lugar onde as pessoas podiam chegar com seus barcos à vapor. O Pavilhão histórico Varna, situado na ladeira sobre a praia, era um destino popular na paisagem cenográfica com seu terraço, restaurante e salão de baile. Na borda do bosque e em frente ao mar, o pavilhão deveria ser vivenciado desde o cais que já não existe. A ponte infinita restabelece esta conexão histórica e oferece uma nova perspectiva sobre a relação entre a cidade e a paisagem que a rodeia', disse Niels Povlsgaard, sócio e co-fundador do Gjode & Povlsgaard Arkitekter."